[Resenha] A Volta do Parafuso | Henry James

[Resenha] A Volta do Parafuso | Henry James

A Volta do Parafuso, de Henry James“A Volta do Parafuso : The Turn of the Screw”, de Henry James, foi inicialmente publicado em formato de folhetim em edições do jornal literário Collier’s Weekly: An Illustrated Journal. Enquadra-se bem no gênero novela em que Henry James foi particularmente bem-sucedido, constituindo um paradigma deste formato “curto demais para ser um romance e longo demais para ser um conto”. Em seu aparecimento em quatro partes nos primeiros meses de 1898 foi considerado um dos maiores triunfos literários do autor ao mesmo tempo em que foi tido como seu trabalho mais enigmático e controvertido. 

Autor: Henry James

Editora: Landmark

Ano: 2011

Quantidade de páginas: 160

Avaliação (de 0 a 5): 4,0

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Alerta de gatilho: crianças em situação de vulnerabilidade

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Antes de mais nada, só quero avisar para você SÓ LER O PREFÁCIO DEPOIS QUE TERMINAR O LIVRO! Detesto prefácio que dá spoiler. Não é porque A Volta do Parafuso (ou A Outra Volta do Parafuso, em algumas traduções) é um clássico que tá liberado soltar o final da história assim.

Mas dito isso, o livro de Henry James é um terror gótico com personagens estranhos tomando decisões estranhas naquela atmosfera vitoriana repressora. E o final, meu Deus! Calma que eu não vou soltar o spoiler, mas posso dizer que eu não esperava por aquilo.

Resumo de A Volta do Parafuso (e de onde veio esse nome)

Tudo começa com uma festa seleta em que as pessoas estão ouvindo histórias de terror. Um homem chamado Douglas, meio relutante, começa a contar a história que ouviu de uma antiga preceptora, que é a protagonista da nossa história.

A preceptora não tem nome. Quando ela assume a narração da história, descobrimos que ela vem de uma família sem muitas posses e recebe a proposta de um homem rico para se tornar a responsável pela educação dos seus sobrinhos órfãos, que vivem numa propriedade no campo, longe dele. Mas com uma condição: ela não pode escrever a ele, nem perturbá-lo sob hipótese nenhuma. 

The Innocents, adaptação de A Volta do Parafuso
Deborah Kerr na adaptação de 1961, The Innocents.

Precisando de dinheiro e atraída pelo charme dele, ela aceita (em vez de soltar um “sai daí, doido!”). Chegando na casa, ela se encanta com as duas crianças que vai cuidar, Miles e Flora (embora ele tenha sido expulso do colégio e ninguém saiba o motivo).

Até descobrir que existem fantasmas na mansão. Mais precisamente, o fantasma da antiga preceptora, Senhorita Jessel, e de um empregado, Peter Quint.

O nome A Volta do Parafuso aparece nas primeiras páginas, enquanto um dos personagens está contando uma história de terror.  Ele também aparece nas últimas páginas. O termo “a volta do parafuso” dá a ideia de uma situação ser piorada, como se apertada ainda mais (pelo menos foi a essa a interpretação que eu li em alguns sites e que realmente fez mais sentido para mim).

Só podia prosseguir se encarasse a “natureza” como coisa toda minha e confiasse nela, tratando minha provação monstruosa como um empurrão feito numa direção sobrenatural e decerto desagradável, mas que ao fim exigia apenas, para que o confronto fosse justo, que eu desse uma outra volta no parafuso da virtude humana comum.

Terror na era vitoriana

Não vou revelar muitos detalhes sobre os fantasmas (porque o livro é muito curto), mas à medida em que descobrimos mais sobre eles, a verdadeira história do que se passou na casa antes da preceptora chegar acaba se revelando. Quer dizer, em parte.

Porque A Volta do Parafuso não é como um livro do Stephen King, em que as coisas são mais claras. Não existe um momento de explicação no final sobre o que realmente aconteceu. Tudo fica muito nas entrelinhas. Mas podemos intuir que a Senhorita Jessel e Peter Quint fizeram algo terrível às crianças. Se foi algo que elas viram, ouviram ou sofreram é o que não sabemos.

Em vez de terror, gritaria e confusão, o livro está mais para terror, gritos reprimidos e silêncio sobre o assunto. E isso deixa qualquer um agoniado. A preceptora sabe que as crianças estão escondendo alguma coisa, as crianças sabem que ela sabe, mas ninguém fala NADA. 

A beleza sobre-humana, a doçura fora do comum dessas crianças. “É um jogo”, continuei; ” é um cálculo e uma impostura”.

E isso tem muito a ver com o período vitoriano da história, as coisas não eram sempre faladas em voz alta. Mas a preceptora também é uma personagem misteriosa. Ela tem uma relação quase subserviente com as crianças, especialmente Miles. A reverência que ela tem ao menino é muito estranha, gerando, inclusive, interpretações de comportamento inapropriado.

Versão da BBC de 2009 para a A Volta do Parafuso
Michelle Dockery, de Downton Abbey, na adaptação da BBC de 2009

E o que falar de Flora e Miles? A princípio, eles parecem crianças adoráveis. Mas depois você se pergunta se não tá faltando a Super Nanny ali ou é caso de sair correndo mesmo. Você não vê nenhuma das crianças falando (na narração da governanta, ela apenas diz o que as crianças falaram, sem usar as aspas), mas quando elas começam, você fica com a pulga atrás da orelha. Aquilo é realmente uma criança falando? Aquela criança é normal? Ou alguém está falando pela criança?

Onde, nesse tempo todo, tinha ficado Flora? Quando coloquei a pergunta para Miles, tocou um pouquinho mais antes de responder, e por fim disse apenas: “Ora, minha querida, como posso eu saber?”

A Volta do Parafuso: um terror gótico curtinho e de arrepiar

Clássicos de literatura são assim chamados porque suas discussões, enredos e personagens marcam gerações e ainda geram as mesmas inquietações de quando foram lançados. Livros como A Volta do Parafuso são imortais. 

Então, antes de lê-lo, vou reforçar que o enredo não é todo explicadinho. Na verdade, ele deixa MUITA coisa para interpretação e a questão é que, quanto mais você pensa e lê sobre o assunto, mais a história fica arrepiante e dá vontade de reler algumas passagens.

Quanto mais avanço, mais vejo, e, quanto mais vejo, mais temo. Não sei o que não veja – o que não tema!

Existem muitas dúvidas sobre a confiabilidade da preceptora (Será que ela não está imaginando tudo isso? Será que essa devoção às crianças é sadia?), então vemos a história pela ótica dela. O final te deixa sem ar, sem esperar por aquilo, mesmo o clímax crescendo pelo horror que se aproxima.

Confesso que sou daquelas leitoras que precisam de um epílogo, um algo mais, uma mínima explicação que seja, por isso não dei cinco estrelas. A relação da preceptora com Miles me incomodou demais também.

Mas, no geral, é um leitura fluida, veloz, com uma escrita muito boa e que vai deixar você refletindo por alguns minutos.

Algumas curiosidades sobre a história:

  • O livro A Menina que Não Sabia Ler é inspirado nele;
  • A nova temporada de A Maldição da Residência Hill, na Netflix, será sobre os acontecimentos na mansão de A Volta do Parafuso;
  • A Volta do Parafuso também ganhou uma adaptação para o cinema em 2020 com o nome de ‘Os Órfãos’ e estrelada por Finn Wolfhard (Stranger Things e It);
  • O livro Os Mistério de Udolpho, um clássico da literatura gótica é mencionado na história, assim como também foi em A Abadia de Northanger, de Jane Austen. O livro de Ann Radcliffe era uma referência no tema à época;
  • Existe uma adaptação brasileira da história, estrelada por Virgínia Cavendish.

Principais dúvidas

Qual o final explicado de A Volta do Parafuso?

Como a governanta é uma narradora não confiável, há divergências sobre o final. Mas é possível entender que Miles morre em seus braços após o confronto com o fantasma de Peter Quint. Ela percebe que o menino está livre de Quint, porém seu coração parou.

A Volta do Parafuso e a Outra Volta do Parafuso são a mesma coisa?

Trata-se do mesmo livro, apenas com diferenças na tradução do nome original, ‘The Turn of Screw’.

E você? Já leu o livro? Comenta aqui o que achou!

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