[Resenha] A Poderosa Chefona – Tina Fey
Antes de Liz Lemon, antes do ‘Weekend Update’, antes de Sarah Palin, Tina Fey era só uma jovem com um sonho – um pesadelo recorrente em que ela era perseguida em um aeroporto por seu antigo professor de educação física. Ela também tinha o sonho de, um dia, ser comediante na TV. Ela viu esses dois sonhos se tornarem realidade. Finalmente, a história de Tina Fey pode ser contada. De seus dias de adolescente nerd depravada até se tornar chefe do Saturday Night Live; de sua busca pouco entusiasmada pela beleza física até sua vida como mãe que come coisas do chão; de seu romance unilateral no colégio até sua lua de mel quase mortal – do início deste parágrafo até a última linha. Tina Fey revela tudo e prova algo que sempre suspeitamos; você não é ninguém na vida até alguém chamá-lo de ‘chefe’.
Autora: Tina Fey
Editora: Best Seller
Ano: 2013
Quantidade de páginas: 272
Avaliação (de 0 a 5): 4,5
Você pode não conhecer Tina Fey, mas com certeza conhece o que ela escreveu. A mulher é uma das roteiristas de Meninas Malvadas! Esse humor ácido e nonsense de Fey também pode ser visto na série 30 Rock e nas temporadas antigas de Saturday Night Live.
Quem não conhece essas referências, pode até se perguntar se vale a pena ler esse livro. Eu comecei A Poderosa Chefona porque queria ler autobiografias de mulheres de sucesso. Mas, pra ser sincera, o motivo real é que eu li as primeiras palavras e de repente NÃO CONSEGUIA PARAR DE LER e aproveitava todo momento livre pra dar mais uma lidinha!
A Poderosa Chefona é um livro para ser devorado
Parafraseando Meninas Malvadas, eu gastava 80% do meu tempo falando de Tina e nos outros 20% estava torcendo para alguém mencioná-la, para que eu pudesse falar mais. Ok, brincadeiras à parte, o livro é realmente muito fluido, daqueles que dá para terminar em um dia.
Não é o que você espera do livro de uma mulher de sucesso, né? Normalmente esse tipo de livro vai se demorar mais em alguns conceitos como o empoderamento feminino, citar dados, esse tipo de coisa (eu posso recomendar também Faça Acontecer, da Sheryl Sandberg, que, apesar de mais sério, é muito bom de ler. Não, eu não virei a doida à procura de ferramentas de coaching).

Mas Tina Fey engata na história da infância (que foi marcada por uma tentativa de assassinato -!!!!- que ela não aprofunda por justamente não querer ser conhecida por isso), passa pela adolescência nerd, os primeiros passos na comédia do improviso, os fracassos, o sucesso…. E você apenas a acompanha, como se estivesse ouvindo uma amiga muito engraçada falar.
Um livro sobre autoaceitação
No meio de todas essas piadas, existem lições valiosas sobre aceitar o próprio corpo. Afinal, Tina Fey é uma mulher poderosa em Hollywood e esse tipo de pressão costuma acontecer. Mas ela não se sente bem passando por uma cirurgia pra ficar igual a todo mundo:
No fim do dia, fico feliz em ter os pés do meu pai e os olhos da minha mãe comigo o tempo todo. Se um dia eu voltar para a praia em Wildwood, quero que a minha filha possa me encontrar na multidão ao ver meu quadril de caixa de refrigerante. Quero que ela possa me identificar no meio do mar de mulheres louras parafinadas com bronzeado falso porque serei aquela com um rabo de cavalo grosso, de pele com tom esverdeado.
Um livro sobre como ser uma chefona
Parece bobo ler livros desse tipo. Afinal, que homens leem sobre “como ser um chefe homem”?. Para eles é natural porque passaram a vida inteira aprendendo que o mundo é deles. A minha geração, pelo menos, só veio naturalizar que, ei, o mundo também é das mulheres e nós merecemos o topo, de uns anos pra cá.
Antes disso, as mulheres independentes eram representadas como megeras ou coitadas nos filmes. Com o exemplo de Sheryl Sandberg, do Facebook (vale ressaltar que eu não concordo com as políticas dela e do Zuckerberg que ameaçam a privacidade dos nossos dados, mas o livro dela é bem interessante para incentivar a carreira das mulheres), a showrunner Shonda Rhimes e a própria Tina Fey falando sobre suas carreiras, é possível vislumbrar que esse caminho também pode ser o de qualquer mulher.
os homens estão na comédia para quebrar as regras. Por outro lado, as mulheres que conheço na comédia são todas boas filhas, boas cidadãs, educadas e com diploma de faculdade. Talvez nós mulheres sejamos atraídas pela comédia porque é uma maneira socialmente aceita para quebrar as regras e extravasar da nossa rotina
Além da clara dificuldade de aceitação das mulheres na comédia (As Tinas Feys e Tatás Wernecks ainda não são muitas) por fugirem dessa perfeição imposta ao gênero, não é fácil também a pressão para que conciliem família e trabalho.
Ela também fala sobre a falta de respeito que as mulheres mais maduras sofrem no show business. Se elas não são mais “atraentes”, são chamadas de loucas. Para Fey, a solução é a seguinte:
Me parece que o remédio mais rápido para essa situação de “mulheres loucas” é que mais mulheres se tornem produtoras e contratem diversas mulheres de várias idades.
No geral, eu recomendo?
Eu recomendo A Poderosa Chefona se você tem uma pequena noção de quem é Tina Fey (porque pode ser chato ver referências de programas que você nunca ouviu falar) e é de boas com o humor ácido e autodepreciativo da autora. Mas ela é realmente engraçada e os capítulos são construídos de forma leve, com inserção de alguns scripts, sem que a leitura se torne arrastada em nenhum momento.
E, claro, se você quer ler mais sobre empoderamento feminino no show business. Você não vai se deparar com um tratado sobre feminismo e nem com uma análise profunda das mulheres na comédia, mas é bom unir uma boa leitura com um excelente tema.