Resenha | Torto Arado – Itamar Vieira Júnior

Resenha | Torto Arado – Itamar Vieira Júnior

Título: Torto Arado
Autor: Itamar Vieira Junior
Editora: Todavia
Idioma original: Português
Ano da edição: 2019
Quantidade de páginas: 262
Avaliação: 5/5

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Sinopse de Torto Arado

No sertão da Bahia, as irmãs Belonísia e Bibiana, filhas de trabalhadores rurais, encontram uma faca afiada na velha da mala da avó que mudará suas vidas para sempre.

Filhas do curandeiro Zeca Chapéu Grande, cada uma segue um destino: Bibiana decide lutar pela emancipação e fim da servidão, enquanto Belonísia se dedica à vida na fazenda nas terras que tanto ama.

À medida que a narrativa acompanha as vidas das duas, podemos ver as condições de trabalho extenuantes no campo (e análogas à escravidão), as primeiras discussões sobre direito dos trabalhadores e a fé que permeia toda a comunidade, entrelaçando o místico e o cotidiano em um realismo fantástico brasileiro.

O que eu achei do livro

Torto Arado é um livro que já nasceu clássico, é uma leitura obrigatória para qualquer que queira entender o Brasil que sempre fomos. A vida dos personagens é dura, mas a narrativa é de um lirismo e delicadeza que torna a leitura cativante.

As duas primeiras partes são centradas em Belonísia e Bibiana. Cada irmã é fascinante à sua maneira e é impossível não torcer para que cada uma encontre a felicidade (seja casando ou um deixando um casamento). Já a terceira parte é mais dedicada ao lado místico da obra, o que elevou ainda mais a narrativa, na minha opinião.

O que eu acho mais incrível é que Itamar Vieira Júnior transformou em fantástica uma realidade muitas vezes ignorada, mostrando quanta beleza há na vida e nas pessoas, mesmo naquelas que podem ser tão distantes do leitor. Assim, o livro não romantiza o sofrimento, mas tampouco o esconde, inserindo os acontecimentos com sensibilidade e firmeza.

Meu povo seguiu rumando de um canto para outro, procurando trabalho. Buscando terra e morada. Um lugar onde pudesse plantar e colher. Onde tivesse uma tapera para chamar de casa. Os donos já não podiam ter mais escravos, por causa da lei, mas precisavam deles. Então, foi assim que passaram a chamar os escravos de trabalhadores e moradores.

No final das contas, esta é uma obra a se levar pra vida. Feito com extensa pesquisa in loco do trabalho do autor no Incra, a história traz realidades que muitos brasileiros desconhecem (inclusive pelo lado da religião também), o que por si só já é enriquecedor. E o livro em si é bastante ágil e com acontecimentos que prendem a atenção.

Personagens de Torto Arado

Belonísia

Desmotivada a estudar, Belonísia se dedica à vida no campo e procura manter a própria essência em meio ao machismos e desafios que surgem.

Bibiana

Sempre muito próxima de Belonísia, Bibiana segue um caminho para fora da fazenda a fim de ser professora, o que a levará a defender os direitos dos quilombolas e a movimentar a região com novas ideias.

Zeca Chapéu Grande

Pai das irmãs e marido de Salu, Zeca Chapéu Grande é curandeiro e recebe os encantados nas noites de jarê, tendo grande contato com o sobrenatural e o realismo fantástico da história. Além disso, ele é um grande líder e referência na comunidade.

Salustiana

Mãe das protagonistas, Salustiana se torna a parteira da região, mantendo-se uma mulher justa e sensata.

Donana

Avó das protagonistas, Donana é a dona da faca que causa tanto mal no começo da história. Parteira, ela vem de uma vida de exploração e sofrimento, mas também com grande proximidade com os encantados.

Severo

Primo das protagonistas, Severo é um rapaz inteligente e sensato que desperta o interesse de ambas no começo, mas seguirá a vida com uma delas, sendo responsável pelos principais acontecimentos que movimentam o final.

Frases do livro

“O vento não sopra, ele é a própria viração”, tudo aquilo fazia sentido. “Se o ar não se movimenta, não tem vento, se a gente não se movimenta, não tem vida”, ele tentava me ensinar.

Meu pai havia nascido quase trinta anos após declararem os negros escravos livres, mas ainda cativo dos descendentes dos senhores de seus avós. Minha avó, Donana, tinha dado à luz o filho José Alcino em meio a uma plantação de cana na Fazenda Caxangá. Ele nascendo meio de um charco, porque não haviam permitido que sua mãe deixasse de trabalhar naquele dia. Meu pai veio ao mundo cercado das mulheres que, assim como minha avó, cortavam apressadas a cana sob a vigilância dos capatazes da fazenda.

Principais dúvidas (cuidado com spoilers)

Se você não terminou o livro, PARE POR AQUI. Abaixo, seguem spoilers com as principais dúvidas sobre a história. Novas interpretações são bem-vindas, especialmente sobre o final!

Quem ficou muda: Bibiana ou Belonísia?

A faca de Donana decepa a língua de Belonísia e machuca a de Bibiana.

O que significa Torto Arado

O título faz referência à uma das palavras que Belonísia tenta falar após o acidente: ‘arado’. Mas o som sai prejudicado: ‘ era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada’.

Final explicado de Torto Arado

No final, Santa Rita Pescadeira narra como fez justiça àquele povo se utilizando dos corpos de Belonísia e Bibiana.

Quem matou Salomão em Torto Arado?

A narrativa não deixa claro se foi Belonísia ou Bibiana. O que se sabe é que Salomão morre esfaqueado e as duas irmãs, tomadas por Santa Rita Pescadeira, vagavam à noite e voltavam com as mãos sujas de terra, sem lembrar de nada.

Quem matou Severo em Torto Arado?

Severo é assassinado na frente de casa após desafiar o poder de Salomão naquelas terras. A polícia logo arquiva o caso como sendo de disputa por drogas, mas a crença geral é de que Salomão foi o culpado.

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