[Resenha] Nosferatu | Joe Hill

Título: Nosferatu
Autor: Joe Hill
Editora Arqueiro
Ano: 2014
Tradução: Fernanda Abreu
Quantidade de páginas: 624
Trigger Warning/Alerta de gatilho: abuso sexual (mas não com crianças)
Avaliação (de 0 a 5): 4,0

Até agora, este foi o melhor livro que li do autor Joe Hill. No entanto, a minha experiência anterior (O Mestre das Chamas) não foi lá essas coisas todas. O livro Nosferatu é um bom trabalho de terror, com cenas tão viscerais como de filmes, um cenário fantástico apavorante, mas derrapa no caminho com alguns personagens.
Sobre o que é Nosferatu
Victoria McQueen tem o poder de atravessar realidades por meio de uma ponte, mas isso a assusta tanto que ela abandona o hábito de percorrê-la na infância e só volta na adolescência, depois de uma briga com a mãe. Porém, é justamente aí que ela vai parar na casa de Charles Manx, um assassino que tem os mesmos poderes.

A diferença é que ela tem a ponte e ele tem um Rolls-Royce (com a placa N0S4A2, que pode ser lida como “Nosferatu” em inglês, uma alusão ao vampiro clássico). A outra diferença é que ele usa o poder para atrair as crianças para a terrível Terra do Natal e sugar suas vidas para viver para sempre.
Mas Vic consegue escapar do assassino e ainda o coloca na prisão. Anos depois, ela tem um filho, mas seu trauma com Manx a faz negar seus poderes, o que a torna uma mãe bastante problemática. Porém, Vic precisa encarar seus medos novamente quando Manx retorna e sequestra o menino.
A Terra do Natal como força narrativa desperdiçada
Na trama, tudo gira em torno do Natal. Quando músicas natalinas começam a tocar do nada sem estar na época certa, pode ter certeza de que Manx está por perto. Eu achei bastante interessante a criação dessa atmosfera festiva e sombria que culmina na fantástica Terra do Natal, no final.

Honestamente, o lugar deveria aparecer muito mais no livro. Nosferatu gasta muito tempo na preparação para esse momento e pouco tempo dedicado a ele. As cenas que ocorrem na Terra do Natal são empolgantes e mostram o quão bem aquele cenário foi imaginado por Joe Hill.
Os melhores momentos do livro são as cenas macabras das crianças assustadoras que vivem na Terra do Natal. No entanto, o autor prefere destacar mais um personagem que confere um tipo de terror diferente, que foge da proposta fabulesca e sombria da Terra do Natal.
O horror que está nos seres humanos
Não vou mentir, demorei a terminar este livro por conta de Bing, o ajudante de Manx que sequestra as crianças… e suas mães. Enquanto Charles Manx é um vilão com certo de código de honra (por mais que sugue a vida das crianças, ele fica horrorizado com a acusação de abusar delas), Bing não tem nenhum. Esse é um personagem abjeto, asqueroso e que embrulhava meu estômago toda vez que aparecia.

Fiquei indignada que, enquanto tinha um vilão tão interessante como Manx, Nosferatu dedicava capítulos para mostrar os pensamentos de Bing, as lembranças do que fazia com suas vítimas e toda a podridão do seu ser (se compararmos com Stephen King, pai de Joe Hill, este é um personagem tão nojento e inútil quanto Hofstatter em It- A Coisa).
Por mais que essa tenha sido, de fato, a intenção do autor, isso prejudicou o impacto das próprias maldades do vilão principal. Afinal, depois de Bing, qualquer coisa seria melhor do que ele. Portanto, a Terra do Natal (por mais fascinante que seja) pareceu quase um parque de diversões depois da casa de Bing.
Personagens com muito potencial
Vic McQueen é aquela personagem badass problemática no estilo Sarah Connor. Dá para entender a trajetória dela e o que a leva a ser tão fechada. Também é possível entender todas as escolhas que ela faz pelo caminho, embora o seu ceticismo tenha me irritado um pouco.

Mas quando ela finalmente parte para a ação, Nosferatu ganha uma nova vida e as páginas passam a voar. As suas cenas de ação são muito boas, que fazem a gente ficar no limite da tensão. Seu jeito debochado pode irritar no começo, mas quando se trata de enfrentar os vilões principais, é ótimo.
Charlie Manx é um vilão muito bom, envolvido pelas próprias ideias conservadoras e pela certeza de que levar as crianças para a Terra do Natal é algo bom. Senti falta de um aprofundamento de Manx, é quase como ele se fosse uma figura mística intocável na história.
Vale a pena ler Nosferatu?
Vale muito a pena para quem gosta do gênero. Com uma mitologia interessante, o clima de Natal é transformado em um período assustador com personagens fortes e um cenário de horror interessante.

No entanto, o ritmo de Nosferatu foi tão prejudicado pelas decisões criativas que não fiquei empolgada a tentar outro livro do autor tão cedo. Quem tem sensibilidade com o tema descrito no Trigger Warning lá em cima, pode ficar desconfortável com algumas cenas.
Obs: os fãs de Stephen King vão ficar encantados com as referências à It – A Coisa e A Torre Negra.
Obs: O livro foi adaptado para a série N0S4A2, que eu ainda não assisti. Ela está disponível pelo Amazon Prime no Brasil. Confira o trailer:

Jornalista apaixonada por Storytelling, divide seu tempo entre a profissão de Analista de SEO, escrever rascunhos de livros que querem sair da gaveta e mimar a cachorrinha Lizzie Bennet.