[Resenha] Jurassic Park | Michael Crichton

[Resenha] Jurassic Park | Michael Crichton

Uma impressionante técnica de recuperação e clonagem de DNA de seres pré-históricos foi descoberta. Finalmente, uma das maiores fantasias da mente humana, algo que parecia impossível, tornou-se realidade. Agora, criaturas extintas há eras podem ser vistas de perto, para o fascínio e o encantamento do público. Até que algo sai do controle. Em Jurassic Park, escrito em 1990 por Michael Crichton, questões de bioética e a teoria do caos funcionam como pano de fundo para uma trama de aventura e luta pela sobrevivência. O livro inspirou o filme homônimo de 1993, dirigido por Steven Spielberg, uma das maiores bilheterias do cinema de todos os tempos.

Autor: Michael Chrichton
Editora: Aleph
Ano da edição: 2015 (Ano da publicação original: 1990)
Tradução: Márcia Men
Quantidade de páginas: 528
Avaliação (de 0 a 5): 5,0

Quando comecei a ler o livro Jurassic Park, fiquei me perguntando se ainda sentiria a mesma tensão que senti no filme clássico de Steven Spielberg. A boa notícia é que sim, o livro é BEM tenso! Para quem acha que não dá pra sentir a mesma tensão que no filme, olha, basta saber que o livro é bem mais sangrento e bem mais inclemente do que o longa com faixa etária mais acessível.

Michael Chrichton consegue alinhar reflexões éticas, uma panorama da pesquisa genética patrocinada pela indústria do entretenimento (e isso em 1990, hein!) e uma aventura ainda mais visceral do que o filme.

Sobre o que é Jurassic Park?

Mas para quem não assistiu o icônico filme de Steven Spielberg, vamos ao resumo rápido: o milionário John Hammond vai lançar um parque temático com dinossauros reais, clonados a partir de mosquitos preservados em âmbar pré-histórico. Para fazer os ajustes finais, ele convida o paleontólogo Alan Grant, a paleobotânica Ellie Sattler e o matemático Ian Malcolm para atestar que o lugar finalmente poderá ser aberto ao público. Para completar o grupo, os netos de Hammond, Lex e Tim, vão visitar o local também.

Grant percebeu que não estava olhando para uma árvore. Ele estava olhando para o pescoço curvo e gracioso de uma criatura imensa, que se erguia quinze metros no ar.

Ele estava olhando para um dinossauro.

Só que uma série de problemas acarretam na queda de energia do parque, o que deixa as cercas desprotegidas e os dinossauros (incluindo os carnívoros Tyranossauro Rex e Velocirraptor) soltos pelo lugar enquanto os personagens tentam sobreviver e pedir o resgate.

A história provoca adrenalina mesmo?

Para estruturar bem a ação que ocorre mais à frente no livro Jurassic Park, Michael Crichton utiliza o início para embasar toda a teoria para que aquela situação aconteça. O autor explica muito bem a questão da genética, dos investimentos visando ao entretenimento, a descoberta do DNA de dinossauros no âmbar e a adaptação com DNA de outros animais para preencher lacunas no código incompleto.

As icônicas cenas de ataque dos dinossauros também são o ponto forte do livro.

A impressão que dá é que realmente tudo aquilo é POSSÍVEL. Essa não é uma ficção científica totalmente descolada da realidade, ela é embasada o suficiente no mundo para que possa se tornar crível. Até mesmo o código de DNA e a programação do sistema do parque são mostradas no livro. Então, justamente por isso, a ação demora um pouco a acontecer, mas quando começa, é muito tensa!

Malcolm se preocupava ainda mais com os velocirraptores. Eles eram caçadores instintivos e jamais recusavam uma presa (…) Tinham garras letais em todos os quatro membros; um golpe de um antebraço poderia estripar um homem, derrubando suas vísceras para fora. E eles tinham mandíbulas poderosas que arrancavam carne, em vez de morder. Eram muito mais inteligentes que os outros dinossauros e pareciam ter a fuga como instinto.

Só não dá pra dizer que é o tempo todo eletrizante porque os momentos de ação se intercalam com algumas passagens em que os personagens (especialmente Ian Malcolm) vão refletir sobre a ética do que fizeram e as reais chances de sobrevivência ali. Então, o decorrer é equilibrado pra dar aquele suspiro de alívio. As cenas em que os dinossauros aparecem são bem mais violentas do que no filme, com descrições gráficas da matança mesmo. Por isso, dá pra ficar com muito medo pelos personagens.

Os personagens são cativantes?

Aí é que estão um dos meus problemas com a obra. Ao contrário do filme, o livro Jurassic Park quase não traz mulheres para a história e as poucas que existem não são bem retratadas. A Dra. Ellie Sattler é constantemente sexualizada (diversas vezes os personagens ficam reparando nas pernas dela) e quase não participa da ação principal, o que deixa parecer que ela é mais um enfeite pra história não ter só homens.

No livro Jurassic Park, os personagens funcionam como estereótipos de filmes de ação

A menina Lex é outro problema. No livro, ela é mais nova do que Tim e se comporta como a perfeita irmã caçula chatinha, fazendo birra nas horas mais inconvenientes e incapaz de despertar a empatia de quem está lendo. Tim precisa assumir um papel de maturidade e liderança para lidar com ela.

Jurassic Park é um livro de personagens masculinos. Na época, isso provavelmente não incomodava tanto, mas hoje pode gerar certa impaciência com esse sexismo todo. E os homens não são tão bem desenvolvidos. Alan Grant é o herói corajoso, Hammond é um vilão ganancioso, Malcolm é a voz da sabedoria (apesar de ser bem arrogante)e por aí vai. Isso não prejudica o andamento da obra, mas impede de ser ainda melhor.

O livro Jurassic Park é a mesma coisa do filme?

Como Michael Chrichton foi um dos roteiristas do filme, não é de se surpreender que se pareça muito com a obra original. No livro é que vamos entender um pouco mais a fundo como funciona a InGen, a empresa de John Hammond que clona os dinossauros, como se deu a relação com os investidores, como a companhia mantém tudo escondido do governo…Tudo aquilo que estrutura a ação que veremos mais adiante.

Porque a história da evolução é de que a vida escapa a todas as barreiras. A vida se liberta. A vida se expande para novos territórios. Dolorosamente, até perigosamente. Mas a vida encontra um jeito.

Algumas aventuras o livro não entram no filme, o que é mais uma prova de como essa história é recheada de momentos de tensão. O livro Jurassic Park ainda traz personagens menos carismáticos do que no filme: Hammond não é muito mais ganancioso e sem escrúpulos (bem diferente do velhinho bonachão do longa), Lex é uma criancinha mimada e Ellie não tem tanta atitude (o que foi radicalmente mudado nas cenas empoderadoras do filme).

Vale a pena ler o livro Jurassic Park?

Este é um livro excelente e uma leitura imperdível para quem é fã dos filmes, de ficção científica e de quem gosta daquele suspense que não deixa a gente tirar os olhos das páginas. Apesar do começo ser mais lento, a ação compensa pela espera e deixa você totalmente imerso naquele mundo e se questionando se isso não seria possível mesmo de acontecer.

Quando a ficção científica atinge esse objetivo, é porque ela é muito boa mesmo. Mesmo sendo de 1990, as discussões levantadas continuam atuais, o que me deixa pensando em como seria incrível se o autor ainda fosse vivo e pudesse comentar a história diante dos avanços da tecnologia hoje.

Como a capa faz muita diferença na hora de se apaixonar pelo livro na livraria, a edição da editora Aleph tem um projeto visual belíssimo, além de boa diagramação e tradução. Recomendo demais a leitura! Ah, para quem não sabe, existe a continuação, viu? Assim como o filme homônimo, o nome é O Mundo Perdido.

Vamos relembrar esse filme clássico? Veja o trailer:

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