[Resenha] A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata – Mary Ann Shaffer e Annie Barrows

[Resenha] A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata – Mary Ann Shaffer e Annie Barrows

A_SOCIEDADE_LITERARIA_E_A_TORTA_DE_CASCA_1368665944BO título conta a história de Juliet Ashton, uma escritora em busca de um tema para seu próximo livro. Ela acaba encontrando-o na carta de um desconhecido de Guernsey, Dawsey Adams, que entra em contato com a jornalista para fazer uma consulta bibliográfica. Começa aí uma intensa troca de cartas a partir da qual é possível identificar o gosto literário de cada um e o impacto transformador que a guerra teve na vida de todos. As correspondências despertam o interesse de Juliet sobre a distante localidade e narram o envolvimento dos moradores no clube de leituras – a Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata –, além de servirem de ponto de partida para o próximo livro da escritora britânica.

O clube, criado antes de existir de fato, foi formado de improviso, como um álibi para proteger seus membros dos alemães. O que nenhum dos integrantes da Sociedade imaginava era que os encontros pudessem aproximar os vizinhos, trazer consolo e esperança e, principalmente, auxiliar a manter, na medida do possível, a mente sã. As reflexões e as discussões a respeito das obras os livraram dos pensamentos sobre as dificuldades que enfrentavam e ainda serviram para aproximar pessoas de classes e interesses tão díspares, de pescador a frenólogo, de dona de casa a enfermeira.

Instigada pela força dos depoimentos, a jornalista decide visitar Guernsey, onde a convivência com as pessoas que conheceu por cartas e a descoberta sobre as experiências dos ilhéus lhe dão uma nova perspectiva. A viagem proporciona à escritora mais do que material para seu livro. Guernsey oferece a chance de recomeçar após a Guerra, fazer amizades sinceras e encontrar o amor – em suas diversas formas. O que ela encontra por lá, e as relações que trava, mudam sua vida para sempre.

A autora Mary Ann Shaffer não sobreviveu para assistir ao sucesso da sua estreia literária – ela morreu em fevereiro de 2008, aos 73 anos. A sociedade literária e a torta de casca de batata recupera um mundo que se perdeu entre os escombros da guerra, feito de camaradagem e solidariedade, delicadeza e simpatia. Nele, a guerra – e a morte – é vencida por um batalhão de personagens igualmente sensíveis e sedutores, que conduzem os leitores pelas mãos, através de um narrativa, humana e marcadamente feminina, até o fim.

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
Autoras: Mary Ann Shaffer e Annie Barrows
Editora: Rocco
Ano: 2009
Quantidade de páginas: 304

Avaliação (de 0 a 5): 5,0

pipoca-avaliaçãopipoca-avaliaçãopipoca-avaliaçãopipoca-avaliaçãopipoca-avaliaçãoPrint

Onde comprar: Afiliados Amazon (compre neste link sem custo adicional e ajude o blog!)

Descobri essa preciosidade por meio do filme da Netflix com Lily James e o resultado foi previsível: o livro é tão – ou mais – apaixonante quanto a adaptação. Ok, confesso que histórias emocionantes da época da Segunda Guerra Mundial sempre me atraíram e, bem, a temática de LIVROS mais ainda, né? Some tudo isso e coloque em um título fabuloso e, voilá, você tem minha total atenção. Mas chega de conversa, vamos falar do livro!

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata tem esse nome fofinho (pelo menos eu achei!), mas a história é uma delicada reconstrução de um período difícil por meio dos depoimentos dos moradores da ilha de Guernsey, na Inglaterra.

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
Olha essa lindeza!

O livro é um romance epistolar, ou seja, escrito por meio de cartas, mas em nenhum momento se torna chato. Sério mesmo, se os personagens estivessem escrevendo por e-mail (se fosse por WhatsApp não teria nem história), o ritmo se manteria o mesmo. Porque desenvolvemos afeto por esses personagens!

A relação (não-romântica) de Juliet com o seu amigo e editor Sidney, as confidências de Juliet com sua amiga Sophie, os depoimentos emocionantes dos membros da Sociedade Literária, tudo tem o seu valor e desperta sentimentos como se nós, leitores, é que estivéssemos recebendo as cartas!

Um breve (realmente breve!) resumo

A história se passa pouquíssimo tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, ainda é possível ver os destroços do conflito nas ruas ao mesmo tempo em que as pessoas estão voltando a comprar sapatos e a sair para dançar.

Guernsey, cenária de A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
A ilha de Guernsey. Foto: Financial Times

Após um livro seu ter sido adquirido por Dawsey Adams em Guernsey e ele ter escrito a ela perguntando sobre o autor, Juliet descobre sobre a Sociedade Literária e começa a se corresponder com aquelas pessoas para buscar material para o seu artigo. Só que à medida em que os relatos da ocupação nazista na pequena ilha vão se intensificando, ela percebe que essa é uma história poderosa demais para apenas escrever sobre ela. É preciso estar ali.

Afinal, Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é romance? É drama?

O filme da Netflix tem o romance como elemento principal no trailer, mas tanto no longa quanto no livro, esse não é o eixo principal da história. Mas para quem adora esquentar o coração com um romance fofo, temos um triângulo entre Juliet, seu pretendente rico e o tímido Dawsey.

O livro é mais discreto do que o filme porque, bem, são cartas. Seria meio inverossímil se Juliet de repente passasse a narrar beijos calientes para sua amiga (devemos lembrar que ela é uma moça dos anos 1940). Mas ainda assim, dá pra torcer e achar tudo bonitinho.

Mas, lembrando, o eixo central gira em torno das histórias que explicaram o porquê de moradores que nem era tão chegados a leitura resolverem montar um clube do livro durante a ocupação nazista. É isso que veremos a seguir.

Os recortes que formam uma narrativa poderosa

Dentre tantas histórias narradas sobre a Ocupação, a certeza que fica é que a literatura tem o poder de transformar realidades. Ainda que ninguém pudesse, apenas com o poder dos livros, expulsar os nazistas da ilha e voltar a viver com dignidade, as histórias formaram resistência em seus corações.

Em momentos difíceis, a tendência é mergulhar na escuridão, em não acreditar em razões para continuar. Quando a realidade parecia impossível de ser digerida, os livros nomeavam sentimentos difíceis de discernir, levavam esperanças para os jantares e faziam com que a vida pudesse ser vivida, em vez de se tratar apenas de sobreviver. Ainda que por alguns momentos.

O filme da Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
Juliet (Lily James) e a Sociedade Literária no filme

Não tem como não se emocionar com essa mensagem. Essa é uma história fictícia sobre os anos pós-Guerra, mas por que não levar essa máxima para os dias atuais? Uma guerra na Síria, tragédias sem precedentes acontecendo no Brasil só nos três primeiros meses de 2019, a crise sufocante na Venezuela às nossas portas… Às vezes parece difícil acreditar que existe algo além de tantas notícias ruins todos os dias. Mas aí vem a literatura para mostrar que é possível, sim, respirar um pouco e sonhar com o futuro.

Para finalizar, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata entrou para a minha lista de favoritos, é uma leitura fluida, delicada, bem-humorada nas horas certas, sensível quando é necessário. Eu recomendo muitíssimo a leitura!

Confira o trailer do filme (ative as legendas):

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.