It – A Coisa: 5 momentos do livro para relembrar e 2 momentos para esquecer
Quando você lê um livro do tamanho de It – A Coisa, de Stephen King, sempre fica alguma cena na memória, mas – dependendo de quanto tempo você leva para ler – outras podem ter se perdido no meio de tantas passagens interessantes.
Para sentir novamente as emoções do livro, selecionei as melhores e piores passagens de It – A Coisa. Quem não leu, deixo o aviso de que o texto CONTÉM SPOILERS. Aviso dado, vamos começar?
Os 5 melhores momentos de It – A Coisa
A luta de Beverly contra Tom Rogan
Depois da (angustiante) morte de Adrian Melon, Mike faz as ligações para cada um dos integrantes do Clube dos Otários e a história foca em como vai a vida de cada um. A que mais doeu foi a de Beverly.

Sendo a criança mais corajosa de todas (porque, afinal, ela enfrentava a violência e insinuação de abuso do próprio pai), ela é quem vive a pior vida. Tá certo que ela cresceu como estilista famosa, mas é nos relacionamentos que mora a sua fraqueza. Com um breve panorama da vida romântica de Bev, entendemos que Tom Rogan é a representação do pai da moça.
E, como já dizia a frase do livro As Vantagens de Ser Invisível, “nós aceitamos o amor que achamos que merecemos”, Beverly embarca numa relação horrivelmente abusiva. Depois de King nos colocar a par dos pensamentos de Tom Rogan, encaramos com ansiedade o momento em que Bev decide partir para Derry a contragosto do marido.
O capítulo inteiro é pautado na tensão de Beverly levar a maior surra de sua vida nas mãos de Tom. Praticamente não consegui parar de ler até terminar. Com diversos gatilhos de violência doméstica nessa passagem, Tom avança pra cima dela e, quando achamos que Bev vai congelar de pavor, o medo da Coisa acende nela uma chama de coragem que a faz revidar com fúria. Ela se torna a menina corajosa que costumava ser – para assombro de Tom – e luta contra ele, mal se importando com os próprios ferimentos. Quando ela finalmente consegue sair da casa é quando deixamos de prender a respiração e temos a certeza de que essa mulher é mesmo incrível.
A Guerra das Pedras
Simplesmente uma das cenas mais maravilhosas do livro! Tudo começa quando Henry Bowers vê Mike na rua e decide dar uma surra nele (para quem não lembra, a fúria racista de Henry contra Mike foi constantemente incentivada pelo pai maluco dele) junto com alguns amigos. Quem está do lado de Bowers não sabe – ou não quer entender – que ele pretende chegar perto de matar Mike e não apenas dar um susto nele. Mas o garoto entende isso na hora e foge como nunca.
Nesse meio tempo, o Clube dos Otários está reunido no Barrens e decide jogar bombinhas no ferro-velho para matar o tempo (claramente uma outra geração), até que Bill tem um pressentimento e pede que todos comecem a recolher pedras. O clima é de uma batalha épica se aproximando. Quando Mike sai das árvores correndo da turma de Bowers, o Clube dos Otários decide protegê-lo.

Pode parecer bobo, mas a sequência da Guerra das Pedras é uma das melhores do livro (e Pennywise nem aparece). Mostra o melhor – e o pior – dos personagens ali envolvidos e serve como uma prova de fogo para reunir o Clube dos Otários contra o mal maior.
A rebelião de Eddie contra a mãe
Essa cena acontece após Eddie apanhar feio de Henry Bowers e sua turma (por retaliação à Guerra das Pedras) e ir parar no hospital. A cena da surra é angustiante e ver o pobre Eddie perceber que a mãe ainda está afugentando seus amigos do hospital torna tudo pior.
Mas é aí que uma coragem se acende dentro dele e ele resolve enfrentar a mãe. Só contextualizando: ele havia descoberto, naquele mesmo dia, que a sua bombinha contra asma era meramente um placebo. Sua mãe, na ânsia psicótica para protegê-lo de doenças, recusava-se a ouvir qualquer médico e a tratá-lo como um menino normal (o que ele realmente era).

É aí que Eddie, mesmo na cama do hospital, a coloca contra a parede e insinua que se ela continuar proibindo seu amigos de vê-lo, ele vai parar de tomar a bombinha. A Sra. Kaspbrak mal reconhece o filho com aquela coragem toda e acaba concordando. Em algum momento o livro, o Eddie adulto percebe que esqueceu que a bombinha era um placebo e isso influenciou todas as decisões da sua vida (especialmente no casamento com uma mulher que era a representação da sua mãe).
A batalha contra a Coisa na casa da Rua Neibolt
Muito melhor do que a batalha final contra a Coisa nos esgotos (que teve um tom de épico, mas foi muito “cósmica” e descolada da realidade), a batalha na casa da Rua Neibolt mostra o melhor de cada personagem ali, como Beverly, que não se destaca muito na luta final.

Espertamente, as crianças levam balas de prata (convertidas a partir dos dólares de prata de Ben) porque a Coisa assumiu a forma de um lobisomem naquela casa. Até o momento em que finalmente a veem, eles enfrentam os próprios medos naquele lugar que lembra a mansão da Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson (uma das grandes inspirações de King).
A luta contra a Coisa-Lobisomem é tensa e agitada, muito mais inteligente do que a batalha final (mas também né, as crianças estavam no limite quando chegaram aos esgotos). Beverly salva o dia com a sua pontaria (que não é mais mencionada no restante do livro, uma pena).
A destruição de Derry
Indo e voltando da batalha espacial contra a Coisa, King vai destruindo a cidade que ergueu em nossa imaginação. É tão épico! A cidade de Derry é um dos principais personagens do livro. Ao longo dos capítulos, descobrimos desde os seus maiores pecados remontando de tempos antigos até aos recantos de brincadeiras que marcaram a infância dos Otários.

Como foi erguida em cima da morada da Coisa, nada mais lógico do que a cidade ruir quando a criatura é destruída. E a cidade é destruída com requintes de filme de terror. Tem a icônica caixa d´água caindo e inundando tudo, tem o centro da cidade afundando, tem pessoas morrendo de forma aleatória, é uma tragédia completa. Ainda há quem tente reavivar o comércio da cidade depois de tudo, mas, ao que indica, Derry vai ser esquecida no futuro.
As cenas que deveriam ser esquecidas
O livro é maravilhoso, isso todo mundo sabe, mas no meio de taaantas páginas, existem algumas passagens que fazem você arregalar os olhos e se perguntar: “mas por que isso está aqui mesmo?”. Vamos relembrar algumas (e depois esquecê-las novamente)?
A “orgia” do Clube dos Otários no capítulo do esgoto
Essa não é uma cena descrita com malícia, mas é totalmente desnecessária. Não faz sentido nenhum! King se refere a ela como uma passagem da infância para a vida adulta, mas, olha, existem tantas maneiras de fazer isso (com algum ato simbólico que deixe seus medos infantis para trás, por exemplo) sem recorrer a esse tipo de abordagem.
As crianças estão perdidas porque Eddie, com medo, perde o seu senso de direção, aí Beverly tem a ideia maluca de que todos deveriam se iniciar sexualmente. Não com essas palavras (a intenção, na verdade, é resgatar o elo entre eles), mas é chocante do mesmo jeito. Outra coisa que me incomoda profundamente é a ideia de que a grande ação de Beverly na batalha final é somente essa. Ela serve como um elo entre todos, mas por meio do sexo. Achei desrespeitoso com a personagem. No geral, uma cena totalmente descartável e que não agrega em nada na história.
As maldades de Hofstetter
Para quem não lembra, Hofstetter é aquele amigo psicopata de Henry Bowers que é devorado pela Coisa enquanto Beverly vê tudo escondida. Não sei se a intenção de Stephen King foi mostrar que até crianças psicopatas poderiam ser capturadas por Pennywise, mas o capítulo remontando a história do garoto é perturbador.
Se ao menos a história dele servisse à narrativa como um todo, talvez esse capítulo pudesse ser mais útil, mas não é o que acontece. King desenha a mente de uma criança psicopata em todos os seus detalhes mais sinistros que vão embrulhando o seu estômago. Hofstetter é tão detestável que a cena macabra em que ele é capturado não causa tanto pânico (exceto pela Beverly, fiquei tensa achando que ela seria descoberta).
Também fica aqui uma menção (des)honrosa às milhares de páginas contando a história das pessoas mais detestáveis de Derry, com descrição até da decadência de uma prostituta no meio de tudo. Algumas são importantes, outras poderiam ser simplesmente resumidas.
Mas no geral, It – A Coisa é um livro que eu leria de novo certeza (pulando certas cenas desnecessárias)!
Na sua opinião, quais as melhores e as piores cenas da obra?