[Crítica do Filme] It: Capítulo Dois

[Crítica do Filme] It: Capítulo Dois

66862378_2359323404115082_6524057246769348608_nUma promessa feita há vinte e sete anos chama 7 adultos para se reunirem em Derry, Maine, onde, enquanto adolescentes, lutaram contra uma criatura maligna que atacava as crianças da cidade. Não tendo a certeza de que seu Clube de Perdedores havia vencido a criatura todos aqueles anos atrás, os sete haviam jurado retornar a Derry se o Pennywise reaparecesse.

Direção: Andy Muschietti
Estreia no Brasil: 2019
Elenco: James McAvoy, Jessica Chastain, Bill Hader, Andy Bean, Isaiah Mustafa, James Ransone, Jay Ryan, Bill Skarsgard.

Avaliação (de 0 a 5) = 3,5

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Eu estava TÃO ansiosa pela segunda parte de It! Fiz uma maratona do livro para conseguir terminá-lo a tempo de ver o filme e… Bem, temos aqui o filme de terror mais engraçado do ano! Mas, calma! It – Capítulo Dois ainda consegue despertar momentos de horror e desespero pelas vítimas de Pennywise enquanto se firma como uma boa diversão para quem leu o livro. Mas vamos ver um pouco do que funcionou e o que não funcionou de forma alternada.

Estrutura bagunçada e longa demais

São quase três horas de filme. Se a estrutura fosse coesa, cortasse onde precisasse cortar e orquestrasse cada ponta solta da história para culminar em um final épico, não teria problema em ser tão longa. Mas o que parece é que Andy Muschietti (grande fã do livro) teve pena de cortar cenas e deixou a narrativa inchada na tentativa de reunir o máximo de cenas da obra possíveis.

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O Clube dos Otários na busca pelo esconderijo montado por Ben na infância

Uma das decisões mais criticadas é a de manter os confrontos de cada personagem com Pennywise no meio do filme. Quem leu o livro sabe que é exatamente assim que os capítulos prosseguem, mas, ei, é um livro! Sendo um calhamaço de mais de 1000 páginas, há muito espaço para desenvolver cada núcleo. Mas um filme exige uma linguagem cinematográfica que funcione em tempo hábil. Então essa estrutura que funcionou no livro deixa It – Capítulo Dois mais arrastado e repetitivo.

Elenco excelente com química que funciona

Um dos maiores acertos nesse e no primeiro filme é a escolha do atores do Clube dos Otários. Enquanto as crianças (embarcando na vibe que Stranger Things trouxe) foram imediatamente aclamadas no primeiro It, a escalação do elenco adulto foi muito boa também. Claro que não dá para exigir o mesmo carisma do elenco infantil em um filme tão bagunçado, mas a turma esbanja química entre si.

O maior destaque do elenco – e do filme – é Bill Hader, que interpreta Richie Tozier. Comediante com experiência em atuações dramáticas, Bill carrega o filme nas costas em diversos momentos e me fez gargalhar com vontade em muitas cenas! É graças a ele e à interação com James Ransone, que interpreta Eddie Kaspbrak, que o filme se tornou um dos terrores mais engraçados que já vi , ainda que essa combinação humor/horror se desequilibre em alguns momentos que falarei mais adiante.

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O reencontro dos antigos amigos é uma das melhores cenas do filme (note o prato vazio)

Mesmo com a química funcionando perfeitamente, Jessica Chastain está completamente apagada em um roteiro que não a favorece (mesmo com a forte cena inicial, que poderia ter um desdobramento para a redescoberta da força de Beverly) e James McAvoy entrega uma atuação decente, mas não memorável. E não poderia deixar de falar de Bill Skarsgard, o palhaço Pennywise, que ganha algumas (poucas) cenas para brilhar, ainda que seja constantemente ofuscado pelo uso de CGI. Mas o ator fez um excelente trabalho com o que pode.

Uma das maiores injustiças é com Mike. O personagem é um dos que tem mais destaque no livro e é deixado de lado nos dois filmes. Ele só teve mais destaque em It 2 porque é o elo que une o Clube dos Otários a Derry. Embora o ator, Isaiah Mustafa, tenha se dedicado a entregar um personagem mais complexo, Mike só aparece para servir de escada para os outros personagens. Isso é algo, infelizmente, comum para personagens negros em Hollywood. 

Dramédia com muito exagero de CGI

As cenas de alívio cômico são impagáveis, mas o roteiro coloca mais cenas engraçadas do que o normal, o que passa a impressão de que o filme é uma espécie de dramédia bizarra. Embora o humor funcione bem em algumas cenas (como quando Richie imita Pennywise), em outras cenas a faceta cômica estraga o poder dramático de momentos em que a tensão deveria ser o principal sentimento a ser evocado.

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Uma das cenas de verdadeiro terror em It – Capítulo Dois

A aparição de Henry Bowers adulto e a sua interação com “Hofstetter” só causa vergonha alheia. E o que falar dos monstros bizarros criados pela Coisa? Até entendi que a intenção era descambar para o bizarro, para o território de sonhos terríveis onde nada faz sentido e a lógica da vida adulta não funciona, mas o uso exagerado de CGI e do lado “cômico” das aparições deixou tudo muito tosco. Um exemplo disso é a cena de Eddie com o leproso.

O uso de CGI já era um problema no primeiro filme, mas nesse longa piorou com força total. Poxa, você tem um ator como Bill Skarsgard, um design de produção interessante e a criação de um monstro com trejeitos e vozes bem alinhadas, aí vai jogar tudo fora pra colocar efeitos visuais na tentativa de torná-lo mais assustador? Claro que não vai dar certo. Terror é jogo de câmera e sutileza que deixa que a sua imaginação preencha as lacunas do que não vê.

Metáfora bonita sobre crescer

No meio de uma série de decisões erradas e estrutura caótica, It – Capítulo Dois ganha fôlego ao nos lembrar que It – A Coisa é uma história sobre crescer e superar os próprios traumas. O ato final serve para relembrar os personagens adultos sobre a força que têm, algo que, em algum momento dos 27 anos que se passaram, foi esquecido.

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Se no livro já era confuso, o Ritual de Chud do filme foi bem dispensável

Entre o vai-e-volta das cenas com o elenco infantil e o elenco adulto, uma das mais bonitas é o flashback das crianças no clube, quando Stan entrega as toucas para cada uma. A singeleza do momento é a prova de que é possível passar uma mensagem sem exageros.

Essa metáfora sobre destrinchar os próprios medos e vê-los como menores do que pareciam ser é uma lição bonita que todo mundo precisa aprender na vida adulta. O final com inspiração em Conta Comigo (aquele clássico dos anos 80 baseado em um conto de Stephen King) também foi bonitinho (embora uma certa carta pudesse ser deixada de lado porque aquela explicação foi desnecessária e até sem sentido).

Então, vale a pena ver It – Capítulo Dois?

Eu não recomendo para quem não viu nada de It ainda (nem o filme de 2017 e nem o livro), porque pode ser cansativo mesmo. Vale para quem viu o primeiro filme e adorou a história (até porque existem muitas cenas novas com o elenco infantil). E vale muito, claro, para quem leu o livro. Os fãs do calhamaço provavelmente são os que mais vão aguentar ficar 3 horas na poltrona do cinema para ver cada referência ao livro.

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Mike merecia um destaque muito maior

No geral, é um filme que eu veria de novo. Não porque seja bom como o primeiro (não é mesmo!), mas porque a sintonia entre os atores é genial e eu preciso ver as piadas do Bill Hader de novo. No entanto, eu esperava (bem) mais da história e fico desapontada com o que tinha tudo para dar certo.

Curiosidades:

  • Existe uma cena nova que mostra um lado de Richie que não foi mostrado nos livros. Fiquei surpresa, mas até que fez sentido na história e deu mais profundidade ao personagem. Fiquem atentos, fãs do livro!
  • Stephen King faz uma participação especial na loja em que Bill (James McAvoy) encontra a sua antiga bicicleta.
  • A Tartaruga (grande nêmesis da Coisa no livro) é levemente referenciada com uma miniatura em uma cena do colégio.
  • As constantes piadas com a falta de jeito do escritor Bill em fazer finais são uma baita referência aos finais do próprio King, que nem sempre terminam com muito sentido.
  • Os livros da história de Derry que aparecem no filme são uma referência aos milhares de estudos que Mike faz na obra original.
  • Andy Muschietti anunciou que pretende fazer uma versão especial do filme com sete horas de duração (!!!), juntando os dois longas com adição de cenas novas. Acho um exagero, mas vou assistir? Vou.

E você? O que achou de It – Capítulo Dois?

 

Confira o trailer:

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