Resenha | Ciranda de Pedra – Lygia Fagundes Telles

Resumo de Ciranda de Pedra

Nos anos 1950, Virgínia é uma menina solitária de imaginação vívida que mora com a mãe, Laura, e o novo companheiro dela, o médico Daniel. Porém, esse relacionamento é marcado pelo escândalo, já que foi com ele que Laura traiu o marido, Natércio.

Assim, ela precisou deixar com ele as duas filhas mais velhas, Otávia e Bruna, enquanto se mudou para uma casa mais modesta com a caçula, Virgínia.

A menina, então, cresce se sentindo excluída pelas irmãs mais velhas (e os amigos delas, a ‘ciranda de pedra), bem como todos da rica casa de seu pai. Após voltar a morar com ele, um acontecimento marca a sua vida para sempre.

Na idade adulta, ao voltar do colégio interno, as memórias da infância ainda a assombram e Virgínia precisa encarar o passado enquanto reencontra o antigo grupo de amigos das suas irmãs.

O que eu achei do livro

É impressionante como Lygia Fagundes Telles descreve a jornada emocional de Virgínia em uma narrativa cheia de metáforas e, ainda assim, bastante fluida.

Os personagens são interessantes, as entrelinhas (principalmente elas!) também são, e tudo se alinha em uma história envolvente, daquelas que podem ser lidas em poucos dias.

A obra trouxe temas que eu não esperava ver abordados nos anos 1950, como homossexualidade (ou seria bissexualidade?), e até assuntos polêmicos para os dias atuais, tais como eutanásia, suicídio, estigma de doenças mentais, etc.

Ouça, querida”, disse Otávia certa vez, “não fique assim com essa mentalidade de donzela folhetinesca, não separe com tanta precisão os heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo muito bonitinho como nas experiências de química. Não há gente completamente boa nem gente completamente má, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas passa.

Com tudo isso, a história consegue seguir o seu fluxo acompanhando a evolução dos pensamentos de Virgínia, desde as fantasias da infância para o pragmatismo da vida adulta.

O mal maior foi não estar nunca presente, não ver de perto as coisas que assim de longe viraram histórias de semideuses e não de seres humanos inseguros, medrosos.

Porém, o contexto da época e da branquitude elitista de São Paulo trazem falas de cunho racista e preconceituoso por parte da protagonista. Por isso, é sempre bom ler um livro levando em conta o contexto em que foi escrito e a própria personalidade dos personagens também.

Mas no geral, Ciranda de Pedra é um livro para ser lido com calma, assimilando as metáforas, refletindo sobre as passagens e sentindo os conflitos dos personagens. Foi uma leitura impactante e arrebatadora, vale muito a pena (sempre ativando um olhar clínico sobre os pensamentos da época).

E vendo que a libélula enveredava por entre os juncos, ficou pensando que mais importante do que nascer é ressuscitar.

Personagens do livro Ciranda de Pedra

Virgínia

De imaginação vívida e carência emocional, ela luta para conseguir a atenção do pai enquanto se envergonha de nunca ser igual às irmãs. Na idade adulta, o jogo vira ao seu favor, mas a dor do passado a transformou em uma pessoa mais fria.

Otávia

Filha mais velha e considerada a mais bonita das irmãs, Otávia tem o mesmo jeito charmoso e desconectado da mãe, Laura. Na idade adulta, ela não se prende ao moralismo da época e vive a sua liberdade como bem entende (claro que dentro do privilégio de ser de classe média alta).

Bruna

Católica fervorosa, Bruna julga os atos da mãe de forma severa, enquanto defende o pai (sem considerar o que ele pode ter feito à Laura). Na idade adulta, ela equilibra uma família ‘perfeita’ com a hipocrisia típica de muitos moralistas.

Letícia

Amiga de Otávia e Bruna, irmã de Conrado e apaixonada por Afonso, essa é a personagem que mais quebra paradigmas da trama. De criança magricela para tenista famosa na idade adulta, Letícia tem interesses que devem ter causado rebuliço na época.

Afonso

Interesse amoroso de Bruna e Letícia, Afonso destila arrogância para compensar a falta de talento. Sua vida como adulto consiste em se deparar com essas falhas, inclusive no próprio casamento.

Conrado

Interesse amoroso de Virgínia e de Otávia, Conrado é uma alma sensível e de temperamento gentil desde a infância até a idade adulta.

Laura

Separada numa época em que o divórcio não existia no Brasil, Laura abdica da vida de luxo para viver o amor verdadeiro ao lado de Daniel. No entanto, seu estado de saúde mental se agrava constantemente.

Daniel

Sensível e dedicado, Daniel deixa tudo de lado para tratar Laura e deixá-la mais feliz.

Natércio

Marido traído de Laura (a quem, provavelmente, oprimiu em anos de casamento), ele não consegue ter relações de afeto com as filhas, especialmente Virgínia. Só consegue pensar no trabalho e nos seus rancores.

Luciana

Empregada na casa de Daniel e com seu próprio drama amoroso, Luciana guarda o segredo que será importante para a história toda.

Frau Herta

Governanta na casa de Natércio, ela cuida da educação das meninas, enquanto claramente despreza Virgínia e tem uma obsessão por Otávia.

Novelas baseadas em Ciranda de Pedra

Versão de 1981

A história é a que mais se aproxima com o livro, já que mostra Virgínia vivendo com a mãe e depois indo morar com o pai.

Laura era vivida por Eva Wilma, enquanto Virgínia era interpretada por Lucélia Santos.

Versão de 2008

Um pouco diferente do original, a história mostra o começo com Laura ainda se apaixonando por Daniel, enquanto vive a opressão de Natércio.

Ana Paula Arósio era Laura e Tammy Di Calafiori era Virgínia.

Dúvidas frequentes